Quando elas estão correndo pela casa ou brincando de boneca,
contando entusiasmadas todos os "babados" da escolinha ou
sonhando com os personagens dos desenhos, brigando ou
dormindo, é difícil acreditar. Mas as suas pequenas, um dia,
vão crescer. Ganharão asas e deixarão o "casulo" de cuidado
e proteção que você levantou para abrigá-las a fim de
construir os próprios. Terão um diploma, uma conta bancária,
um namorado, um marido, quem sabe um filho. Sim, as suas
meninas vão virar mulheres.
Mas que exemplares do sexo feminino elas serão? Como se
comportarão diante dos homens? Com que fôlego enfrentarão os
desafios da profissão? Que diretrizes usarão para educar os
filhos? Diante dessas perguntas, a Agência Estado olha para
o futuro. Toma como base a criação das crianças de hoje para
tentar um perfil da mulher de amanhã. Das conquistas e
lições tatuadas na geração atual, procura luzes que podem
aprimorar as próximas. Rascunha uma guerreira possível,
fruto das batalhas dos nossos tempos.
Juliana Fabiano Cavalcante Sá, de 8 anos, Giovana Parussulo,
de 9, e Julia Helena Oliveira Silva, de 8, sempre viram suas
mães trabalharem. Não é à toa que, quando imaginam a vida
adulta, falam primeiro da profissão. "Quero ser
fisioterapeuta. Meus pais gostam da minha massagem", conta
Juliana. "Não penso em casamento. Mas gostaria de ser
professora", emenda Giovana. Apesar de sonhar com a carreira
de bailarina, Julia já admite estudar outras possibilidades.
"Estou conhecendo novas profissões. Talvez mude de idéia."
O depoimento das três meninas vai de encontro ao perfil da
mulher do futuro desenhado pelo psiquiatra Içami Tiba, autor
do livro "Seja feliz, meu filho" (Integrare Editora) e de
outros sucessos, como a série "Quem ama, educa" (Integrare).
"Ela será uma profissional competente nas mais diversas
áreas", diz o especialista. "A mulher de amanhã ainda terá
uma liderança forte tanto na carreira quanto em frente à
família."
Sem culpa- Um quadro não muito diferente do atual, é verdade.
Chefes de saias, no trabalho ou em casa, já existem por todo
o planeta. A diferença, daqui a algumas décadas, segundo o
psiquiatra, ficará por conta de um item arrebatador: a
culpa. "As mulheres de hoje trabalham, mas se sentem
culpadas por estarem longe dos filhos. Quando estão em casa,
se sentem culpadas novamente, por não estarem produzindo. No
futuro, elas se livrarão deste sentimento", "profetiza" Tiba.
De acordo com o especialista, tal "desprendimento" virá da
incorporação definitiva, por parte da "new woman", do seu
papel de provedora do lar. A constatação de que o trabalho é
imprescindível para o próprio sustento e o da família será
mais clara e madura. A nova mulher se enxergará tão
responsável por gerar recursos e pagar as contas da casa
quanto os homens. Coisa que a pequena Julia já entende bem.
"Quando a minha mãe vai trabalhar, eu fico com saudade. Mas
sei que é bom ela trabalhar, porque, assim, ela ganha
dinheiro."
O resultado de uma profissional sem culpa não será o fim da
dupla jornada de trabalho. O martírio deixará apenas de
pesar exclusivamente nos ombros femininos. Para Tiba, a cena
da mãe na cozinha ainda vestida de tailleur preparando o
jantar, o marido vendo televisão na sala e os filhos
brincando no quintal está com os dias contados. A
profissional/"do lar" de amanhã vai impor a divisão das
tarefas domésticas entre todos da casa. Afinal, "ralando"
tanto quanto o marido, gerando tanto sustento quanto ele,
ela não verá mais motivos para se sobrecarregar com panelas,
baldes e vassouras depois dos telefonemas, planilhas e
reuniões.
Justiça que já é feita hoje, observa Tiba. "Muitas
profissionais quando chegam do trabalho, colocam a família
toda para ajudar nos afazeres do lar. Isso porque,
atualmente, a estrutura familiar não é mais matriarcada ou
patriarcada, mas de time. As responsabilidades são
divididas. No futuro, será igual." Juliana confirma. "Às
vezes, depois da escola, eu ajudo na cozinha e a tirar o pó
dos móveis", relata, orgulhosa. Sua mãe, a secretária Sirley
Fabiano Cavalcante Sá, tem outros dois filhos - Flávio
Henrique, de 14 anos, e Tâmila, de 19. Sirley garante que,
na família, nunca existiu diferenciação de tratamento por
conta do sexo, tendo todos os filhos os mesmos direitos e
deveres. Assim, não cabe apenas a mais velha, por exemplo,
dar aquela força nos cuidados com a caçula. "Meu irmão é
muito carinhoso. Brinca comigo e me ajuda a trocar de
roupa", elogia Juliana. Um time em harmonia.
Livres da culpa, focadas na carreira, sabendo dividir as
tarefas domésticas, as mulheres de amanhã ainda terão, mais
do que hoje, uma grande preocupação com a saúde e a
estética. A era das senhoras gordas, descuidadas com o
espelho boleiras de mão cheia, acabará. "Não haverá mais as
matronas", decreta.
Fonte: (Agência Estado/São Paulo)